Amizade é coisa simples: Alguém pensa em você mesmo quando você não pede tampouco precisa. E quando precisa não pede porque faz parte do outro, a ponto dele sentir, pressentir.
sexta-feira, outubro 18, 2019
Meu filho grande
Só pode saber que está morrendo quem tem um filho.
O filho é a régua da existência.
Ele mede o meu fim.
Mede o tamanho de minhas realizações.
Mede o meu salário.
Mede a minha folga.
Mede a minha dispersão.
Mede a minha loucura e a minha sanidade.
Mede a minha vontade de acordar.
Mede a minha felicidade.
Mede a minha paciência com imprevistos.
Podemos até nos enganar sozinhos, só que não tem como disfarçar a fundura do cotidiano diante dos filhos.
O filho é a nossa largura, a nossa dimensão, é quando o mundo nos abraça e também nos esmaga.
O desemprego dói mais sendo pai.
Um desaforo dói mais sendo pai.
A risada é mais estridente sendo pai.
Um elogio é mais desconcertante sendo pai.
Eu me acostumei a me encarar no espelho e desprezo as rugas, os pés-de-galinha, as olheiras.
Não acompanho a minha idade - é como se mantivesse a vitalidade de um jovem por dentro do raciocínio.
O filho me devolve o meu tempo, o tempo findo e vindo da aparência.
Ele quebra as superfícies espelhadas e a fixação dos hábitos.
Não há mais como mentir a minha idade quando observo que ele me ultrapassou na altura, que usa calça 42, que o tênis abandonou o 37, que os meses sãos anos para o adolescente, que não compreende as minas gírias, que as minhas piadas não têm graça, que ele já é adulto e adquiriu uma melancolia no olhar, própria de quem já se frustrou alguma vez comigo.
Pelo filho, descubro que envelheço.
Mas, por ele, não quero morrer.
Fabrício Carpinejar
Postado por
mariatereza cichelli
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo comentário...