sexta-feira, abril 03, 2015

Quando o pop encontra o jazz


A música pop e o jazz mantém um antigo affair. De seus encontros resultam, muitas vezes, versões surpreendentes de clássicos, que renascem a partir das diferentes leituras. A grande vantagem é aproximar novas plateias ao velho e bom jazz.

A geração hippie do início dos anos 70 pensava que o compositor George Gershwin pudesse ser um de seus companheiros, vivendo por ali, em alguma comunidade da Califórnia. Conheciam sua música pela interpretação muito especial de Janis Joplin. A ópera jazz Porggy and Bess, raros eram os que deviam ter escutado, mas todos deliravam com Summertime, a mais famosa de suas canções.

Da mesma maneira, quando os Beatles estavam em seu processo de separação, ainda em 1969, cada um de seus integrantes se dedicou a um projeto de disco solo. O baterista Ringo Starr resolveu fazer, exatamente, um álbum de standards do jazz. Nada de rock and roll naquele momento.

Ringo vinha de uma família que tocava e cantava jazz em casa. Ele fez um disco dedicado especialmente ao repertório preferido de sua mãe. Com todo o poder que ainda tinha como um beatle, pediu a George Martin, o produtor do grupo, que o ajudasse a escolher os melhores arranjadores para cada uma das canções que interpretaria.

Ao band leader Count Basie foi encomendada uma partitura para o clássico de Cole Porter Night and Day. Mas ele acabou passando a tarefa para o maestro Chico O´Ferril, que ficou creditado na ficha técnica. O disco, editado em 1970, ficou com o título da canção Sentimental Journey, que reflete bem a viagem sentimental do ex-beatle. Mas, a primeira sugestão de título era Ringo Starrdust, que fazia um jogo de palavras com seu nome e o tema Stardust, a que ele deu outra bela interpretação.

É claro que esse álbum ficou completamente relegado ao esquecimento, apesar de sua qualidade inquestionável. Mas estava fora de seu tempo. O repertório não era nada íntimo para a maioria dos fãs dos Beatles, de um lado. E de outro, Ringo Starr não seria o intérprete mais querido para a maior parte dos fãs de jazz.

Agora, um novo e surpreendente encontro de gerações e gêneros está sendo proporcionado pelo ícone da canção norte americana, Tony Bennet. A seus quase 90 anos, ele convidou para um disco e uma turnê a mais nova rainha da música pop, a performer Lady Gaga.

Aos seus 29 anos, cantora e compositora nova-iorquina arrasta atrás de si uma imensa legião de fãs muito jovens. Já para os ouvintes de outros gêneros de música, ela chama mais a atenção por seu figurino extravagante e por sua atitude nada convencional.

Contudo, em dupla com Tony Bennet, Lady Gaga se revela uma cantora excepcional, com um suingue e levada que nada fica devendo às melhores cantoras do jazz. Fica parecendo que por toda a vida não havia cantado nada mais que jazz. Em entrevistas ela revelou que na verdade, era a música que escutava, também, na casa de seus pais. O convite de Bennet fez surgir a intérprete escondida no fundo da alma.

No vídeo podemos conferir a apresentação da dupla no show de entrega dos prêmios Grammy, em fevereiro deste ano, com a música de Irvin Berlin, Cheek to Cheek.



Flávio de Mattos Flávio de Mattos

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