Amizade é coisa simples: Alguém pensa em você mesmo quando você não pede tampouco precisa. E quando precisa não pede porque faz parte do outro, a ponto dele sentir, pressentir.
quarta-feira, agosto 28, 2013
Facebook: o vilão da felicidade?
Números e estatísticas podem ser usados para os mais diversos fins e, fora de contexto, podem defender teses das mais estapafúrdias. Um dos casos mais recentes que vi publicados por aí dizia o seguinte: "Facebook deixa as pessoas infelizes". A chamada foi replicada por um bocado de gente nas redes sociais.
Tratava-se de um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que testava o coeficiente de felicidade entre pessoas com o hábito de navegar durante horas no Facebook, enviando-lhes perguntas enquanto navegavam.
As perguntas eram do tipo: Como você se sente neste momento? Quão preocupado você está agora? Quão solitário você se sente agora? Quantas vezes você acessou o Facebook desde a última vez que perguntamos? Quantas vezes você interagiu com pessoas presencialmente desde a última vez que perguntamos?
Fico pensando no que eu teria respondido a uma inquisição daquele tipo numa madrugada qualquer, enfrentando a insônia e o tédio. Talvez me enquadrassem em um típico caso pré-suicida. Tenho uma crítica natural a pesquisas em que a pergunta pode alterar o estado de espírito do entrevistado e influenciar sua resposta.
Sinceramente, acredito que indagar a uma pessoa se ela está feliz ou satisfeita com sua vida, pode acabar interferindo profundamente na sua reação. Além disso, a sensação ruim - e passageira - de ter perdido a condução na volta do trabalho, ou discutido com alguém querido, podem alterar sua avaliação mais global a respeito da própria vida.
De uma forma ou de outra, no estudo ao qual me refiro a maioria das respostas indicou infelicidade - que parecia crescer, a medida que o tempo de navegação no Facebook se estendia. O Facebook foi colocado como vilão: o principal responsável pela infelicidade dessas pobres criaturas navegantes inveteradas. Quanto mais tempo as pessoas permaneciam conectadas ao Facebook, mais infelizes pareciam se tornar. Será?
Onde nasce a infelicidade, afinal de contas? Como especular a respeito dela? Independente de onde ela venha - de uma infância de abusos, da solidão momentânea, da busca desesperada por um casamento, da falta da mãe ou do pai, da morte de um ente querido, de uma doença grave, dos desacertos da vida, do desencaixe na sociedade, da insegurança para encarar o futuro - não parece um pouco simplório entregá-la nas mãos de uma rede social?
Me parece mais plausível concluir que a tristeza e a falta de objetivos na vida - ou falta mesmo do que fazer - leva sim, muitas pessoas a uma rotina "enfurnada" na rede social. A busca na virtualidade da rede pode ser uma tentativa de aplacar os próprios vazios. Custo a crer, no entanto, que o Facebook tenha o poder de tornar as pessoas infelizes.
Uma amiga jornalista me explica: "O Facebook pode contribuir para as pessoas JÁ infelizes serem MAIS infelizes. Muita gente infeliz mora no FB, e como as redes sociais são lugar onde as pessoas querem esfregar a felicidade na cara das outras, as pessoas já infelizes e inseguras podem se deprimir ainda mais...". Então é isso: é possível que a rede social contribua para aumentar a infelicidade.
De fato, vejo um bocado de gente se queixando de "só ver gente feliz no facebook". Isso incomoda muita gente que se sente insatisfeito com a própria vida e que circula por ali para xeretar vidas alheias, esquecendo de cuidar melhor de si mesmas. Particularmente, no contato raso com as redes sociais que o dia a dia corrido nos oferece e permite, prefiro encontrar ali gente feliz do que infeliz - se queixando de tudo e de todos. Melhor deixar as queixas para o divã - até porque porque a "timeline" das pessoas não é penico.
Mais do que simuladores de felicidade, as redes sociais são espaços legítimos onde se deseja mostrar o lado bom da vida, exibir a persona que mais agrada, mostrar características de que nos orgulhamos mais do que aquelas das quais estamos querendo nos livrar. No Facebook, a vida é narrada do jeito que se deseja, filtrando (literalmente) e suprimindo tudo o que não presta. E a legitimação dos momentos de felicidade, possibilitada pelo botão "curtir" as amplifica, é a recompensa de uma exposição que para muitos parece excessiva, desmedida.
Para quem não está feliz, certamente esse universo de sorrisos pode ser uma insustentável overdose. Imagino que um percentual bastante alto das 80 pessoas entrevistadas pelo estudo americano já estivesse "infeliz" quando questionada. Portanto, a interpretação correta seria: o Facebook pode ser co-responsável pelo aumento da tristeza em quem já não está feliz. Porque para muitas pessoas, o que não deveria passar de um bate-papo divertido e sem maiores consequências, é levado a sério demais. Pode tomar o lugar - de maneira frustrante - do contato humano, por exemplo.
Pode deixar de preencher expectativas variadas - como encontrar um emprego ou um parceiro. No lugar de diversão, para muitos, o Facebook pode ser desilusão.
CLAUDIA PENTEADO
Postado por
mariatereza cichelli
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