quinta-feira, março 03, 2016

O meu sol roubado, meu desejo pela lua e pelas palavras cruas


Por algum tempo vivi dentro daquele limite invisível que dita que para que tudo dê certo é necessário se refrear. Não mostre tudo o que é, não mostre as estranhezas, a natureza, a fé, não mostre a si assim como é.

Naquelas aulas de educação artística que eu adorava, certa vez pintei… uma casa cercada por um muro, nuvens e o sol… Ah! O sol… o meu sol era mágico, era sublime, os raios eram mesclado em amarelo, laranja e um pouco, bem pouco de vermelho. Uma garota que não era uma das minhas sempre duas amigas me observava e percebi que ela quis o meu sol (risos). Tentou fazer os raios, tentou mesclar os mesmos tons… Eu a ensinei, disse que não era daquele jeito o meu sol. Mostrei a ela como eram os raios e as cores como eu fazia. Mas depois… Amassei o meu desenho, joguei no lixo e agora queria fazer a noite, queria desenhar a lua. A garota me olhou com cara feia e ao invés de raios agora eu queria desenhar as estrelas.

As pessoas não querem na maioria das vezes fazer o que você faz, elas querem ter o que você tem, mas sem se render aos mesmos sacrifícios pelos quais se submeteu.

Aí nessa vida maluca que não sei bem se é quem impõe as regras… Não, porque as regras vêm dos homens, vêm dessa necessidade de controle e pessoas como a garota que desenha o mesmo sol de alguém, são as pessoas mais queridas, mais rodeados de amigos ou de aduladores. Como no meu mundo há a irrealidade do teatro e a carne viva que é a vida, prefiro viver, nesse compasso de atriz encenando quem sou.

Se mostrar? Não, transborde! Seja quem é, transborde sua essência como rio impetuoso. Se pode andar duas milhas, por que dar apenas dois passos? Se pode dar o sangue, por que se contentará em dar apenas algumas lágrimas?

Prefiro enlouquecer, mostrar assim essa alma sem eira nem beira, esse anseio mais que louco pela vida, pelas notas de música soltas.

Quero o aberto, quero o trancado, quero o seco, quero o molhado, quero o teatro, quero as cortinas, quero a sina, quero o ouro da luz, quero os raios, as cores, os tons, a loucura presente no marrom, quero as palavras, quero, quero, quero, quero, transbordar quem sou.

Quero o ódio, o rancor, o amor, o sublime, o fel, o mel, quero as reações verdadeiras por ser assim como sou. Escrever por amor, escrever como respirar, sem ou com pesar.

Quem disse que as palavras tem que nos dizer o que queremos que elas nos digam? As palavras têm que dizer o que quiserem, tem de ser como quiserem ser. Precisam brilhar, precisam exalar, precisam amar… ou talvez odiar!

Quero a rima sem querer, quero o que o olho não vê. Não só expressar sobre o sol que anseio, mas quero aprender sobre a noite, sobre os cometas, sobre as estrelas, sobre a órbita dos planetas.

Quero ser assim, quem sou. Transbordar minhas irrealidades, minhas verdades, minhas nuances. Quero os relances, soltos, ocos, cheios, fluídos. A esperança. Essa sublime arte de sonhar, em meio ao vento, através do tempo.

Pela palavra como é, dou a minha vida. Palavras sejam como são! Possuam minha alma! Não quero ser o que são, não quero ter o que vocês doces palavras têm, mas com vocês quero desvendar o mistério das estrelas ocultas, das falas mudas e dos desejos crus e talvez azuis.

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