Para quem está muito preocupada com sua própria individualidade, em não seguir os outros, em não ser só mais uma, em decifrar seus próprios dilemas existenciais, e em toda essa infindável masturbação mental, sempre recomendo a história da boneca de sal.
Era uma vez uma boneca de sal. Após peregrinar por terras áridas, descobriu o mar e não conseguiu compreendê-lo. Perguntou ao mar: “Quem é você?”
E o mar respondeu: “Sou o mar.”
“Mas o que é o mar?”
e o mar respondeu: “O mar sou eu.”
“Não entendo”, disse a boneca de sal, “Mas gostaria muito de entender. Como faço?”
O mar respondeu: “Encoste em mim.”
Então, a boneca de sal timidamente encostou no mar com as pontas dos dedos do pé. Sentiu que começava a entender mas também sentiu que acabara de perder o pé, dissolvido na água.
“Mar, o que você fez?!”
E o mar respondeu:
“Eu te dei um pouco de entendimento e você me deu um pouco de você. Para entender tudo, é necessário dar tudo.”
Ansiosa pelo conhecimento, mas também com medo, a boneca de sal começou a entrar no mar. Quanto mais entrava, e quanto mais se dissolvia, mais compreendia a enormidade do mar e da natureza, mas ainda faltava alguma coisa:
“Afinal, o que é o mar?”
Então, foi coberta por uma onda. Em seu último momento de consciência individual, antes de diluir-se completamente na água, a boneca ainda conseguiu dizer:
“O mar… o mar sou eu!”
* * *
A história pode ter várias mensagens. Uma delas é aprender a não fazer perguntas idiotas. Outra, que todo conhecimento tem um custo. Também outra, que a verdadeira compreensão só pode se dar de dentro. Ou, melhor, que só saindo de si mesma, só através do desapego, é possível uma verdadeira compreensão do outro, do universo, de qualquer coisa.
Alex Castro
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo comentário...