terça-feira, janeiro 13, 2015

Para não viver de joelhos


Há igualdade quando todos – independente de cor da pele, raça, ideologia, crença e poder econômico - têm garantidos os mesmos e fundamentais direitos de pensar, decidir, agir e se movimentar.

Fraternidade é definida por convivência harmônica entre diferentes e diferenças. O que significa concórdia, gera amor e garante paz.

Andamos carente de paz, no sentido mais amplo da palavra. A falta dela deforma tudo. Vivemos em um mundo deformado por ganâncias e intolerâncias. Uma siamesa da outra. As duas fomentadoras de ódios.

Tememos a mão que atira, a arma que explode, o grupo que recruta e treina para o mal. Deixamos sempre de lado o business que fabrica e vende as armas. Esse não tem cara, nem ideologia ou crença. Mas sempre marca presença, estimula e principalmente fatura em e com todo e qualquer conflito - seja de Estado ou de crença. Ambos fomentadores do medo, cruéis e matadores.

Quem nos defende dos terrorismos - os de Estado inclusive? Armas e mais violência. Uma gerando a outra, que gera a outra e a outra.

Na América Latina, a violência tem cara de guerra urbana - pelas drogas? diferença social? Acola por petróleo, gás, terra, diamante, crença ou raça. Mundo afora, mata-se por tudo e por nada. Desesperançados, assistimos on-line e, cada vez mais amedrontados, internamente indagando até quando? Onde mais? Quantos, como, qual questão, qual ódio?

Semana passada foi na França. Poderá ser em qualquer parte do mundo. Planeta terra afora, agora, há incontáveis e, para nós, anônimas violências. Sem esquecer: com as mesmas armas, das mesmas indústrias.

Dramático mesmo. Amedrontador mesmo.

"Ser Charlie", nesses dias, traduz indignação, reação e repulsa. Tem sentido de crença na possibilidade da fraternidade, de defesa da liberdade, desejo de igualdade. (Sentimentos listados como ingênuos nos dias de hoje, não?).

Com a bandeira "Charlie", em tristeza real e solene, milhares foram às ruas para não viver cada vez mais encolhido e temendo ser o próximo alvo de alguma intolerância vinda não sei de onde, em nome de qualquer causa. Nesse momento se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, sem saída, até por medo, vamos para um NÃO coletivo. Tomara que resulte.

Tomo a liberdade de compartilhar trechos de textos sobre o Charlie Hebdo e a França, sobre o terror.

"De Gregório Duvivier: "Os chargistas que, mesmo ameaçados, não baixaram o tom, não devem ser tratados como pivetes malcriados que "fizeram por merecer", mas como artistas brilhantes que morreram pela nossa liberdade. Nosso dever é continuar lutando por ela, sem fazer concessões nem perder aquele ingrediente essencial: a falta de respeito pelo ódio".

De Luis Fernando Verrissimo: "... O “Charlie Hebdo” é um jornal nitidamente de esquerda, mas que nunca livrou a esquerda das suas gozações. Seu alvo preferencial é a direita religiosa francesa, mas, de uns anos para cá, ele vem incluindo o fundamentalismo islâmico nas suas críticas — mesmo com o risco de atentados como o que acabou acontecendo na quarta-feira, que foi o mais trágico mas não foi o primeiro. Jornais como o “Charlie”, impensáveis em qualquer outro lugar, se beneficiam de outra tradição francesa, a da tolerância com a contestação política e respeito à liberdade de expressão".

De Leonardo Boff: "... O efeito deste atentado é instalar o medo em toda a França e em geral na Europa. Esse efeito é visado pelo terrorismo: ocupar as mentes das pessoas e mantê-las reféns do medo.

O significado principal do terrorismo não é ocupar territórios, como o fizeram os ocidentais no Afeganistão e no Iraque, mas ocupar as mentes. Essa é sua vitória sinistra.

A profecia do autor intelectual dos atentados de 11 de setembro, o então ainda não assassinado Osama Bin Laden, feita no dia 8 de outubro de 2001, infelizmente, se realizou: “Os EUA nunca mais terão segurança, nunca mais terão paz”.

Ocupar as mentes das pessoas, mantê-las desestabilizadas, obrigá-las a desconfiar de qualquer gesto ou de pessoas estranhas, eis o que o terrorismo almeja e nisso reside sua essência. ... Formalizemos um conceito do terrorismo: "é toda violência espetacular, praticada com o propósito de ocupar as mentes com medo e pavor".

Tânia Fusco Tânia Fusco

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