quarta-feira, outubro 02, 2013

A flor branca.


Manhã. 

É de manhã que as coisas recomeçam.

“Vovô, para que serve o vento?” 

 “O vento sopra as folhas mortas e arruma a terra. As árvores perdem as folhas para conservar a energia e ter força para criar outras novas. O vento leva embora as coisas velhas”. 

 Pausa.

 “Então foi o vento que levou minha avó embora?” 

“Ela foi porque estava na hora”. 

Pausa.

 “Vovô?" 

“Sim?”. 

“Quando é que a gente sabe que está na hora das pessoas irem embora?” 

“A gente nunca sabe”. 

 “O que é saudade, vovô”? 

“Lembrança do que é muito amado. Uma determinada ausência, uma flor branca”.

Nova pausa.

O avô passa o indicador e o polegar nos cantos da boca.

O vento curva um galho de árvore até varrer o chão com as folhas novas.

 “Vovô, está vendo esta formiga?” 

O avô procura um ponto invisível à frente da menina.

 “Estou”. 

 “Se colocar o dedo em cima, ela morre?”

“Morre”.

 “As formigas não têm ninguém para cuidar delas?”

“As formigas são muito pequenas. Elas dirigem seu destino sozinhas. Ninguém toma conta de criaturas tão pequenas”. 

“Então tem alguém para cuidar das grandes? 

 “Também não. Só o tempo toma conta de todos, grandes e pequenos”. 

“Vovô, o tempo está tomando conta da gente?” 

 “Está”.

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