sábado, setembro 21, 2013

Como sobreviver a tantas inovações


A maior inovação, hoje, seria inventar uma maneira de esticar o tempo...

Não se trata de rejuvenescimento ou expectativa de vida – nem distinção entre trabalho e ócio.
A inovação seria um aplicativo para esticar as horas, os minutos, os segundos.
Para situar nossos desejos e compromissos dentro das medidas de tempo.
Quando percebo o grau de ansiedade, frustração e superficialidade que invade hoje os relacionamentos interpessoais, em qualquer idade e profissão, torço para que estejamos vivendo uma transição para algo melhor.
É preciso encontrar...

Tempo para escutar 
Escutar o filho, a mãe, o pai, o namorado, o marido, a mulher, o colega de trabalho, o chefe, o subordinado, o amigo, o vizinho, o paciente, o desconhecido.
Ninguém escuta mais ninguém.
Falamos sozinhos e deixamos o outro falando sozinho.
Tem gente que ainda acha que pode escutar alguém fazendo outra coisa simultaneamente.
Não pode. No fim, há uma algazarra de palavras jogadas fora, que batem na parede e voltam.

Tempo para ler 
Nem me refiro a romances e livros.
As pessoas não leem sequer um e-mail inteiro, do início ao fim.
A não ser que seja uma frase apenas.
É enorme a quantidade de mal-entendidos gerados porque as pessoas não têm mais tempo de ler um e-mail inteiro.
E também não têm tempo de responder aos e-mails, nem para agradecer.

Tempo para fazer amor 
Não falo de preliminares, carinhos antes ou depois. E sim do ato em si.
Quantos deixam de fazer amor por teclar aparelhos na cama sem cessar.
Por trabalhar na cama. Ou por demorar a deitar na cama.
Quantos interrompem o sexo para atender um celular ou responder a uma mensagem.
Quantos fazem amor com a cabeça em outro lugar.
Não dá para ser multimídia no sexo.
Estar presente é condição para o prazer pleno.

Tempo para pensar 
Em vez de pensar duas vezes antes de agir, as pessoas agem duas vezes antes de pensar.
Essa agilidade exacerbada pode até dar certo em alguns casos, mas pode custar caro.
A falta de tempo para refletir leva a decisões e conclusões precipitadas, que não costumam ser as mais sensatas.

Tempo para encontrar amigos (e não seguidores) 
As redes sociais ameaçam tornar a amizade uma ilusão.
Os rituais da amizade se perderam na exposição obsessiva e narcisista de detalhes da vida pessoal. Noutro dia, ouvi alguém dizer que o Facebook é a melhor maneira de perder amigos.
Porque aquela pessoa que você achava bacana se revela um chato na rede social.
E provavelmente você também se revela uma mala.

Tempo para curtir, até mesmo no Facebook 
Muita gente dá “like” no FB sem ao menos ler o que foi postado.
Dá “like” por gostar de quem postou aquilo e por querer que essa pessoa contribua dando “like” no que ela postou.
Isso não acontece sempre, mas acontece muito.
Falta tempo para curtir qualquer coisa com um mínimo de consistência.

Tempo para férias. verdadeiras 
A extrema competitividade faz com que muitos não tirem férias ou então continuem ligados no trabalho.
Há também quem ocupe as férias com a tarefa incessante de relatar aos outros o que está comendo e o que seus bebês e cachorros estão fazendo.

Tempo para comer 
É preciso comer mais devagar, e sem ficar teclando e olhando o celular.

Tempo para respirar 
Não é por acaso que os cursos de respiração fazem hoje tanto sucesso.
Desaprendemos a respirar e, por isso, tanta gente vive com excessiva sofreguidão e insônia.

Tempo para cuidar da saúde
Não faz sentido o ser humano não ter tempo para fazer exames ou se tratar.
Ou sentir culpa por dedicar tempo a sua saúde. Isso se chama autodestruição.

Com isso, poderíamos viver com um mínimo de cordialidade, leveza e calma. Qualidades que parecem ter sofrido curto-circuito num mundo interconectado demais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo comentário...