Aos três rapazes da história, três presentes foram dados: a mesa, o burro, o embrulho, todos os três encantados.
Mas quem recebe tais dons deve sempre ter cuidado.
Pra isso é que é bom viver: para saber aprender.
Era uma vez um alfaiate que tinha três filhos.
Grande, Gordo e Tonto.
Grande era carpinteiro.
O outros dois ainda não tinham decidido o que fazer.
Mas o que os três tinham em comum era a vontade de correr mundo, enfrentar aventuras e ficar ricos.
Grande, sendo o mais velho, achou que devia ir em primeiro lugar.
Ao despedir-se, Grande disse:
- Adeus, pai, vou pelo mundo pra ver se o mundo tem fundo. Posso passar privação, mas não volto sem tostão.
O pai respondeu:
- Vai, meu filho, mas cuidado, o que te digo é provado: o mundo é grande, enganoso e pode ser perigoso.
Andou muito pelo mundo e logo se convenceu de que o mundo tinha fundo, isto é,que era redondo.
Mas também ficou sabendo das incertezas da vida e de como era ruim ficar sem casa e comida.
Então, o pobre rapaz embrenhou-se pelo bosque pra ao menos ficar em paz.
Ali achou um velhinho de chapéu e bengalinha que lhe disse: - Como estás?
- Bem mal - respondeu o rapaz.
O velhinho o convidou a almoçar então e os dois partiram sem se deter.
O que é que houve depois?
Isso é o que vamos saber.
Quando entraram em casa, o velho apresentou Grande, explicando para a mulher:
- Convidei este moço para almoçar conosco.
Grande era muito comilão e achou bom dizer:
- A senhora está vendo como eu sou magro? É de não comer, pelo menos de não comer tanto quanto eu gostaria.
- Pobrezinho! - respondeu a mulher penalizada. - Vou já preparar um bom almoço para você.
Enquanto a mulher cozinhava, Grande pensava que correr mundo até que nem sempre era mau. Principalmente quando se encontrava onde comer de graça, como agora. Se desse jeito, até ficava morando ali.
A fome de Grande era permanente, não só hoje, mas sempre. Em qualquer ocasião podia comer por vinte.
Por isso, quando terminou o almoço, comentou:
- A entrada estava boa e serviu para abrir meu apetite. Agora estou pronto para almoçar com gosto.
O velho, espantado, indagou:
- Meu amigo, você come sempre assim?
Grande sorriu e desculpou-se:
- Não, senhor, hoje estou comendo pouco, porque sou educado, sei que na casa dos outros não fica bem exagerar. Em minha casa eu como o dobro.
O velhinho tinha pensado em convidar Grande para ficar morando ali, mas diante do apetite do rapaz, mudou de ideia. Abriu um armário, tirou uma mesa e disse para Grande:
- Este é um presente de despedida para você.
- Que pena! - lamentou Grande. - Come-se tão bem em sua casa!
- Ora, a mesa é o presente ideal para o seu apetite! afirmou o velho.
- Agradeço, mas acontece que sou carpinteiro e posso fazer uma mesinha como esta a cada dia.
- Como esta? - riu o velho. - Mas esta é uma mesa encantada!
Grande não acreditou nessa história de encanto. a mesa parecia igual às que ele fazia. Em todo o caso, pegou o presente, agradeceu e despediu-se.
Já ia saindo, quando ouviu a risadinha do velho, que dizia:
- Oi, rapaz! Saiba antes qual é o encanto da mesa. Você vai gostar. Basta dizer: "Ponha-se, mesa", e terá toda a comida que puder comer.
Dessa vez foi Grande quem se espantou:
- Toda comida que puder comer? Isso é impossível!
- Não para a mesa encantada - respondeu o velhinho.
Assim que se viu sozinho, Grande experimentou o encanto da mesa. Disse as palavras mágicas e ficou logo convencido de que aquela mesa era o tesouro que lhe convinha.
Muito feliz da vida, Grande resolveu voltar para casa. No caminho parou numa hospedaria para dormir.
- Quero só quarto; do jantar me encarrego - disse Grande, sempre com, a mesa embaixo do braço.
O hospedeiro achou a coisa tão estranha, que quando Grande fechou a porta do quarto, ele se pos a espiar pela fechadura.
Sua curiosidade foi satisfeita ao ver aparecer um banquete quando Grande disse: "Ponha-se, mesa!"
Maravilhado com aquilo, achou que a mesa seria útil na hospedaria para servir os fregueses. Por isso decidiu roubá-la.
Naquela noite, o hospedeiro arranjou uma mesa bem igual à encantada.
Entrou no quarto de Grande na ponta dos pés e trocou as mesas enquanto o rapaz dormia.
Na manhã seguinte, sem desconfiar de nada, Grande pegou a mesa, pagou a conta e seguiu para casa.
Quando chegou, quis logo mostrar ao pai e aos irmãos o tesouro que trouxera de sua volta ao mundo.
- Olhem bem o que vai acontecer: "ponha-se mesa!"
Não aconteceu nada e ou outros três olhavam sem entender, pensando que Grande perdera o juízo e não encontrara coisa alguma.
Grande continuava insistindo e gritava diante da mesa:
- Ponha-se ou eu a faço em pedaços!
O pai, preocupado com aquilo, tentou acalmá-lo:
- Onde já se viu discutir com uma mesa como se fosse uma pessoa? Deixe disso! Se está com fome, eu mesmo lhe preparo alguma coisa para comer.
Ao ouvir falar em comida, Grande desistiu de destruir a mesa e seguiu o pai para a cozinha.
Depois disso, Grande conformou-se em voltar ao seu trabalho de carpinteiro, como antes de ter ido correr mundo.
Mas os outros dois rapazes continuavam pensando em aventuras.
Gordo decidiu ir embora e despediu-se, prometendo:
- Não volto antes de conseguir dez sacos de moedas de ouro.
Eu gosto muito do barulhinho delas... Adeus a vocês todos, podem contar com a fortuna que eu vou trazer.
Gordo andou por muitos lugares, mas não achou nenhum saco de ouro, quanto mas dez, conforme prometera.
Um dia gordo entrou no mesmo bosque em que Grande encontrara o velhinho que lhe dera a mesa. O velho convidou o rapaz para ir à sua casa e indagou:
- Que é que você mais quer no mundo?
- O que mais quero? Oh! É um saco, quero dizer dois, dez, sacos de moedas de ouro!
O velho levou Gordo para o estábulo e disse:
- Eu tenho aqui o tesouro que você quer.
- Aqui? - espantou-se Gordo. - Eu só vejo um burro!
- Mas este é um burro especial - explicou o velho. - Ele pode lhe dar muito ouro!
Gordo não acreditou, mas pensou que o burro serviria para transportar o ouro que viesse a conseguir.
- Basta dizer: "Espirra, burro!", que saem moedas de ouro em quantidade das narinas dele - concluiu o velho.
Gordo apesar de não acreditar naquela história, agradeceu e levou o burro. Depois, para tirar as dúvidas, ordenou:
- Espirra, burro!
Maravilha das maravilhas! Das narinas do burro jorrou uma cascata de moedas de ouro. Gordo se pôs a dançar e a cantar:
Que bom é ter um burro que quando faz "atchim" espirra moedas de ouro que não tem nunca fim.
Há tempos que eu queria ter um burrinho assim, dizer "espirra burro!" e ouvir o seu "atchim".
Um burro igual aos outros se compra no mercado mas ninguem mais no mundo terá um burro encantado!
Gordo não cabendo em si de contente, resolveu voltar para casa.
No caminho parou na mesma hospedaria em que estivera seu irmão.
Pediu ao hospedeiro que lhe servisse o almoço, mas na hora de pagar disse que precisava ir até o estábulo.
O hospedeiro achou muito estranho que alguém precisasse ir ao estábulo para poder pagar a conta.
Seguiu Gordo e ficou espiando. Por isso viu quando ele disse: "Espirra, burro!"
Naquela noite, o hospedeiro foi de granja em granja por toda a região, até encontrar um burro igual ao que espirrava ouro.
De volta, trocou os dois animais.
No outro dia de manhã, Gordo, sem desconfiar de nada, montou no burrinho comum e foi para casa.
Quando chegou, chamou o pai e os irmãos e gritou:
- Espirra, burro!
O bicho continuou quieto, como se nem fosse com ele. Gordo, irritado diante daquela teimosia, ameaçou:
- Espirra, burro, senão te bato.
- Que há com esse animal? - perguntou o pai sem entender. - Está resfriado?
Gordo não estava para explicações.
Disse apenas: - Traga-me a pimenta! Esse bicho vai espirrar por bem ou por mal!
De fato, quando o burrico sentiu a pimenta no nariz, espirrou uma vez atras da outra. Mas de moedas de ouro nem sinal.
Então Tonto teve uma idéia:
- Pelo jeito, meus dois irmãos foram feitos de bobos! Primeiro Grande com a história da mesa e agora Gordo com o burro espirrador... Acho melhor eu ir correr mundo e descobrir o que aconteceu.
Tonto seguiu a mesma estrada que seus irmãos. Quando atravessou o bosque, encontrou o velhinho misterioso, que veio ao seu encontro e foi logo dizendo:
- Você deve ser Tonto, o mais novo dos três irmãos. Para não perdermos tempo indo até minha casa, já trouxe comigo o seu presente.
- E o senhor deve ser quem deu a mesa e o burrico para meus irmãos, não é? - indagou Tonto.
- Sim, sou eu. E para você tenho este embrulho encantado, que pode lhe valer em qualquer aperto. Basta você dizer: "Sai do embrulho, tesouro" e um bastão sairá do pacote e baterá em quem estiver perto. Para faze-lo parar, as palavras mágicas são:
"Tesouro, volta para o embrulho".
Tonto agradeceu e despediu-se. Feliz com o presente, rumou de volta para casa, seguro de que, com aquele bastão, seria capaz de recuperar o que os irmãos tinham perdido.
No caminho, parou na mesma hospedaria onde seus irmãos tinham sido logrados. Logo de chegada entregou o embrulho mágico para o hospedeiro e recomendou:
- Por favor, tome conta deste embrulho e não pronuncie, de jeito nenhum, as palavras: "Sai do embrulho, tesouro", pois se trata de uma fórmula mágica que, quando pronunciada faz acontecer coisas prodigiosas.
- Não se preocupe, guardarei bem o tesouro. Pode ir dormir tranquilo - prometeu o hospedeiro, pensando:
"Este rapaz ainda é mais bobo que os irmãos. Assim que ele adormeça, vou me apoderar do tesouro".
Tonto foi para o quarto, mas ficou bem acordado, com o ouvido à escuta, pronto para o que desse e viesse. Estava decidido a recuperar os tesouros perdidos por seus irmãos mais velhos.
Não demorou muito, o hospedeiro pronunciou a fórmula mágica. O bastão saiu do embrulho e se pos a surrá-lo. Quando ouviu a gritaria, Tonto espiou pela porta. Ao ver o que acontecia na sala disse\;
- Pensou que podia me lograr, como fez com meus irmãos, hein?
- Faça, este bastão parar de me bater! - pedia o hospedeiro.
- Devolva antes o burro e a mesa, que roubou dos meus irmãos.
O hospedeiro obedeceu depressa e o rapaz pronunciou a frase mágica: "Tesouro, volta para o embrulho".
- Então, bastava dizer isso? - suspirou o hospedeiro, arrependido de ter se metido com os três irmãos.
Tonto voltou para casa com a mesa, o burro e o embrulho mágicos. Foi recebido com muita alegria e o pai comentou:
- Até que você não é tão tonto como eu pensava!
Hoje os filhos do alfaiate não querem mais viajar.
Com a mesa, o burro e o embrulho, que harmonia a desse lar!
Todos felizes sorrindo e um passarinho a cantar!
Fábula Encantada de Ludwig Bechstein
maria tereza cichelli
De qual livro foram retiradas as ilustrações. Lembra muito as de um livro de historias infantis que meu tio tinha.
ResponderExcluirFelipe, minha cunhada tem o Livro. É um conjunto de contos infantis muito bem ilustrado. Infeizmente o tempo e as criancas nao deixou com que ele permanecesse em boas condicoes. Esta sem capa mas verifiquei que é de 1970 da editora Abril Cultural. Estou na busca do titulo.
ResponderExcluirMeu Deus. Que nostalgia. Fábulas Encantadas, Abril Cultural.
ResponderExcluirSe chama o grande livro das fábulas encantadas, reúne diversos contos maravilhosos, eu e meus irmãos tivemos um, mas com o tempo também foi se desgastando, hoje um exemplar desse usado custa bem caro.
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