sexta-feira, janeiro 26, 2018

Os Cabelos brancos da alma


De repente a gente se olha no espelho e já não é como antigamente. 
Ok, dirão alguns, e daí? 
E daí muita coisa!
O que mudou, mudou demais, mudou para pior, respeitando e acompanhando os "descuidados- não-cuidados! "que, dolosamente, passamos a ter conosco.

Poderia ser um descuido comum, mas foi maior. 
O descuido não respeitou nenhum limite interno, ou melhor, abusou deles e tornou-se o protagonista. 
O descuido ganhou ares de dono da história e não de mero vilão com data para ser extirpado do meio da trama. 
Ora, vilania tem data de validade, mas, eis que aviso de pronto: esse tipo de vilão se estabelece e você desconhece seus tentáculos gananciosos por mais e mais... descuidos, desatenções, desilusões e muitas tarjas pretas de emoções transviadas e transmutadas em percepções somatizadas num corpo perdido, numa mente embaraçada e num coração descompassado. 

Ligue o liquidificador e sairá o suco: "Cabelos Brancos da Alma".
Foi assim comigo. 
E é assim com muita gente.
Algumas pessoas podem e querem dividir essa experiência, outras preferem não fazê-lo e, cada qual, a seu sentir, está coberta de boas razões. 

Eu mesma demorei muito mais que uma dupla de anos para tomar coragem e dizer para mim mesma que estava insuportavelmente incomodada com meu antigo ambiente de trabalho e com várias questões nele embutidas a contragosto.

Ficava sempre interrogando como seria o "depois", como se eu pudesse, independentemente da situação, pessoal ou profissional, comandar o futuro.
Numa atitude heroicamente desastrosa, mas comum a nós seres humanos meio metidos à besta, a controladores do futuro.

O resumo disso foi que, de um manequim 38, atualmente estou num 44. 
Saúde física e emocional tão comprometidas quanto o corpo que não entendeu esse abandono. 
Esse bolor da alma, esse tufo de cabelo branco que aplacou minha visão sobre mim mesma resultou num corpo desconhecido. 
Tudo seria ruim se não fosse péssimo, a ponto de intoxicar a minha vida e as minhas escolhas, desde o biquíni, ao cardápio, passando pela cabeça que se dividiu em coragem x acomodação.

Fui muito incentivada por várias pessoas, que entenderam que esse depoimento poderia ser útil e animador para alguém. 
Será?! 
Desejo muito! Muito mesmo!

Pois é.
Minha primeira providência foi ter a coragem-honrosa de admitir para mim mesma que estava abandonada por mim. 
Isso foi o mais difícil!

A segunda coisa que fiz foi me municiar de informações que me permitissem compreender o contexto do corpo, para evitar deslizes.

Daí fui fundo: de nutrição à aromaterapia fui dando mergulhos interessados e, depois de me ver como realmente estou, mas não sou, - e essa foi "A" descoberta - resolvi fazer a mim mesma a seguinte pergunta: há cabelos brancos na alma que não possam ser tingidos? 
Não, não há. 
Mas, se se espalharem pela cabeça inteira, contagiarão a ponto de perpetuarem-se.
 
Sigo meu caminho...

|Cláudia Dornelles|