terça-feira, janeiro 03, 2017

O SELFISTA


Sempre que me aproximo de quem está tirando uma selfie, eu tenho medo de atrapalhar.

É como encontrar alguém nu ou se masturbando.

É ser vítima de um atentado violento ao pudor.

Fico com vontade de pedir desculpa, viro o rosto, evito encarar.

O selfista demonstra uma carência extrema, é um solitário pretendendo demonstrar que é conhecido.

Desperta compaixão, insinua uma orfandade de amigos.

Quem faz selfie pensa que ninguém está olhando, está possuído da vaidade e não compreende o quanto é patético.

O selfista transforma a tela em uma metralhadora de toques, até achar um momento que preste.

A busca pelo ângulo perfeito beira a obsessão.

Tem gente que posa 10 horas para si mesmo, à procura de um instante de satisfação.

Lota a caixa de imagens somente para atualizar as redes sociais.

Um flagrante salvo significa 99 deletados.

Já é compulsão, já é doença, já é vício.

Fabrício Carpinejar