segunda-feira, outubro 31, 2016

Me permito errar...


 Eu me permito cansar, me permito doer ao respirar, me permito esvaziar o peito, calejar o coração, ralar a esperança, desgastar a fé.

Eu me permito querer deitar os sonhos mesmo quando o corpo parece estar de pé, admitir o não no momento em que tudo se vestiu de sim.

Eu me permito machucar, me permito cair, me permito iludir, me permito falar pra ninguém ouvir.

Me permito errar, falar quando não devo, insistir quando a razão não obedece, acreditar mesmo quando o coração adoece.

Eu me permito olhar além, ainda que mareada por ver um horizonte que não me traz terra firme.

Eu me permito mirar no norte quando minha bússola interna me diz sul, me permito nublar o sentimento mesmo quando o céu estiver azul, me permito ser de carne e osso, ser obra inacabada, sempre esboço.

Me permito tremer de medo e mesmo assim meter a cara, me permito declamar as poesias que escrevo mentalmente e as guardo, a derramar os sonhos que idealizo mentalmente e também os guardo.

Me permito ser ferida, a me jogar na vida, a não marcar hora com o destino, a acreditar que, mesmo menino, a tempo é sempre sábio.

Me permito ter confiança no que me balança por dentro, a seguir minha intuição, a sentir o que não cansa o sentimento, mesmo quando o próprio sentir for labirinto.

Me permito não mascarar o que sinto, a lutar sempre, a mirar longe ainda que a inspiração me falte.

E só tendo consciência das minhas permissões, cresço, estremeço a alma, bagunço as certezas para arrumá-las de novo de forma mais coerente.

Só me permitindo, sei que estou no início, mesmo quando a alma se sente no fim.

Só me permitindo me sinto chegada, mesmo nos dias em que minha maior vontade seja ir embora de mim.

Lilian Vereza