sexta-feira, janeiro 22, 2016

Só me sinto digna de minhas asas, se eu as utilizar para fazer os outros voarem.


vez houve uma inundação numa imensa floresta.

O choro das nuvens que deveriam promover a vida dessa vez anunciou morte.

Os grandes animais bateram em retirada fugindo do afogamento, deixando até os filhos para trás.

Devastavam tudo o que estava à frente.

Os animais menores seguiam seus rastros.

De repente uma pequena andorinha, toda ensopada, apareceu na contramão procurando a quem salvar.

As hienas viram a atitude da andorinha e ficaram admiradíssimas.

Disseram: “Você é louca! O que poderá fazer com um corpo tão frágil?”.

Os abutres bradaram: “Utópica! Veja se enxerga a sua pequenez!”.

Por onde a frágil andorinha passava, era ridicularizada.

Mas, atenta, procurava alguém que pudesse resgatar.

Suas asas batiam fatigadas, quando viu um filhote de beija-flor debatendo-se na água, quase se entregando.

Apesar de nunca ter aprendido mergulhar, ela se atirou na água e com muito esforço pegou o diminuto pássaro pela asa esquerda.

E bateu em retirada, carregando o filhote no bico.

Ao retornar, encontrou outras hienas, que não tardaram muito a declarar:

“Maluca! Está querendo se heroína!”.

Mas não parou; muito fatigada, só descansou após deixar o pequeno beija-flor em local seguro.

Horas depois, encontrou as hienas embaixo de uma sombra.

Fitando-as nos olhos, deu a sua resposta:

“Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilizar para fazer os outros voarem”.


Augusto Cury