terça-feira, abril 21, 2015

Ele não disse que a ama


Fizeram tudo juntos.

De dieta do alface a sexo tântrico não houve nada que faltasse.

Experimentaram todas as inconveniências siamesas de casal apaixonado e deleitaram-se na sincronia de seus revirares de olhos demorados.

Esparramaram-se nos corpos um do outro.

Viajaram. Se aninharam.

Choraram juntos e não foi pouco.

Compartilharam um quilo e meio de sal.  

Fizeram tudo no plural.

Mesmo assim ele não disse que a ama.

Dizem que ele tem medo.

Que a palavra é muito forte.

Que é melhor não se precipitar.

Amor é o que ele sente pela mãe, pelos livros e até pelo trabalho. Por ela não.

Por ela deve ser apenas um gostar. Ainda que ele quisesse conquistar todo o tempo do mundo contemplando-a respirar, ainda era cedo demais para falar em amar.

Na inquietude da etiqueta antiquada que a fazia esperar, ela questionava que tipo de sentimento é esse tal de amor se não é dito no calor.

Se é necessário medir para falar, não é sentir, é calcular.

Sentimentinho mequetrefe que as pessoas economizam para expressar.

Ele repetia que o que eles viviam valia mais que mil palavras; que não era necessário verbalizar.

Tolo ele que subestimava o calor que as palavras conseguem transportar.

Mal sabe ele o reconforto que um eu te amo bem vocalizado é capaz de proporcionar.

Por fim ele não disse que a ama.

Ele chorou no banho; ela na cama.

Quando o tempo passou, ele finalmente nomeou o que tão antes experimentou.

Ele queria dizer que a amou.

Tarde demais. Ela passou.


Eduarda Costa

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