quinta-feira, março 19, 2015

Análise: Pátria educadora à deriva


‘Parecia uma transição que não terminava nunca.’ Foi assim que um servidor do Ministério da Educação se referiu ontem à meteórica passagem de Cid Gomes pelo cargo.

O ex-governador do Ceará assumiu o posto prometendo cumprir promessas da presidente Dilma, em especial a expansão de creches, a reforma do ensino médio e a ampliação do ensino integral. Em pouco tempo, acrescentou a essas prioridades alguns projetos seus.

Anunciou um programa de qualificação de diretores de escolas públicas, associado a um bônus mensal que seria pago pelo MEC. Falou em fazer avaliações anuais da qualidade do ensino (hoje elas são realizadas a cada dois anos). Disse ainda que transformaria o Enem num teste on-line, que poderia ser feito a qualquer momento do ano pelo estudante. Tudo isso saiu de sua cabeça, sem consulta aos técnicos do MEC.

Havia desconforto no ministério também com a demora para confirmar nomes de sua equipe, da chefia do gabinete à presidência de instituições como a Capes ou o Inep.

Enquanto Cid adiava definições, outro ministro ocupava seu espaço. Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, passou a chamar especialistas em educação e secretários do MEC para dialogar sobre os rumos do setor. Tem conversado inclusive com educadores que apoiaram Aécio ou Marina.

O ex-ministro herdou também alguns pepinos. Num mandato que começava com o lema da “Pátria Educadora", as notícias iam em direção contrária: cortes de despesas e de pessoal em universidades federais, atrasos no repasse de verbas do Pronatec, e problemas no Fies. No caso deste último programa, de financiamento de mensalidades para alunos de universidades privadas, a dificuldade do MEC em comunicar estudantes e instituições sobre as mudanças no benefício contribuíram ainda mais para o clima de mau humor crescente com o governo federal.

Diante de passagem tão curta pelo MEC, não faz sentido falar em legado de sua gestão. Cid, aliás, por pouco não bateu um recorde negativo. Seria o ministro que menos tempo esteve no cargo desde a redemocratização do país. Só não ganha este título graças a Eraldo Tinoco Melo, que permaneceu menos de dois meses na função por motivo de força maior: o impeachment de Fernando Collor em 1992.

No quinto ano de sua gestão, Dilma terá agora que escolher seu quinto ministro da Educação. Se a Pátria Educadora é para valer, que comece com alguém que tenha tempo e capacidade de executar uma política de Estado.

O GLOBO

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