(...) e do meu terraço, em Recife, rogo a Deus para não perder a fé na humanidade.
E lembro Pessoa em seu desassossego:
" Não me indigno porque a indignação é para os fortes;
Não me indigno porque a indignação é para os fortes;
não me resigno, porque a resignação é para os nobres;
não me calo, porque o silêncio é para os grandes.
E eu não sou forte, nem nobre, nem grande.
Sofro e sonho.
Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor à minha ideia de os achar belos.
Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos, o não ser doido para que pudesse afastar da alma de todos os que me cercam, (…)
Tomar o sonho por real, viver demasiado os sonhos deu-me este espinho à rosa falsa de minha sonhada vida: que nem os sonhos me agradam, porque lhes acho defeitos.
Nem com pintar esse vidro de sombras coloridas me oculto o rumor da vida alheia ao meu olhá-la, do outro lado.
Ditosos os fazedores de sistemas pessimistas!
Não só se amparam de ter feito qualquer coisa, como também se alegram do explicado, e se incluem na dor universal.
Eu não me queixo pelo mundo.
Não protesto em nome do universo.
Não sou pessimista.
Sofro e queixo-me, mas não sei se o que há de mal é o sofrimento nem sei se é humano sofrer.
Que me importa saber se isso é certo ou não?
Eu sofro, não sei se merecidamente.
Eu não sou pessimista, sou triste."
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. - Fernando Pessoa.
Antonia Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pelo comentário...