Éramos diferentes.
Eu gastava tudo — eles poupavam.
Eu tomava vinho — eles bebiam cerveja.
Eu amava livremente — eles se envolviam com ciumentos.
Eu era um poeta louco — eles eram respeitáveis.
Eu criava conceitos — eles adoravam as coisas.
Enquanto eu fazia amor, eles faziam filhos.
Enquanto eu fechava os olhos, eles vigiavam.
Enquanto eu estudava e dançava, eles cuidavam da prole e do cônjuge.
Enquanto eu viajava sem destino, eles faziam seus planos e desenhavam seus mapas.
Enquanto eu saltava profundo, eles viam novela.
Tudo tem seu preço.
Por isso hoje eu vivo aqui, sozinho — e não tenho nada além de amores.
Mas eles ainda se amontoam, brigando por inventários e calculando seus haveres...
Não seria justo, portanto, que Deus nos desse agora as mesmas dores.
Somos diferentes.
Não tenho culpa se além de loucura, Deus me deu Razão...
—E continua dando.
(Edson Marques)