sábado, janeiro 09, 2016

"E o que é a vida senão uma dança à volta das relações amorosas?


"E o que é a vida senão uma dança à volta das relações amorosas?

Preenchida, rotineiramente, entre o ponto de partida e o de chegada.
Aquele meio entre os dois grandes momentos: nascimento e morte, paixão e fim.

É neste entretanto, é nessa terra de ninguém suspensa, que as decisões se tomam.
É aí que o medo ou o impulso de avançar são pesados e ponderados, vezes sem conta.
É neste espaço de tempo que o circo se instala - feito malabaristas, tentamos manter as possibilidades no ar.

O estar entre coisas é uma consequência de estar vivo, mas ninguém fica aí muito tempo.
A lembrança, nostálgica, do vento nos cabelos, da adrenalina que nos impulsionava à vida enquanto estávamos girando a uma velocidade alucinante, com a música muito alto e cores rápidas a deslizar por todo o lado, os corpos a serem lançados um contra o outro, sempre mais depressa, sempre mais alto, mais depressa, mais à roda, estonteante.
Soltam-se os braços ao alto, a música sobe de tom e, subitamente, para, esgotou-se o tempo, parou a música, cessou o rodopiar, acenderam-se as luzes.

Instala-se o medo e resta-nos encaracolar para dentro da nossa toca confortável.
Até a dormência nos incomodar e ser preciso correr, mergulhar, decidir, para lá do medo, para lá da pena, para lá de tudo, porque é preciso, porque estar vivo é preciso.
Mesmo que o outro nem tenha se dado conta que o chão estava a quebrar debaixo dos pés, porque é sempre assim: há quem prefira não enxergar o tsunami que se prepara a olhos nus.

E então abraça-se a vertigem... é-se feliz na vertigem...e dança-se, roda-se, num espaço aberto e vazio, expectante de possibilidades, onde a cama é o centro de tudo e é usada, é mesmo muito usada, e à volta dela vai nascendo uma casa, uma cozinha, um abajur, uns cortinados, todos os adereços que tornam um espaço nosso e a cama lá no centro daquele open space, e a vida a girar à volta dela, a rodopiar à volta dela, depressa,  até que a rotina toma conta de tudo - toma sempre conta de tudo porque não fomos desenhados para viver a rodopiar e a certa altura temos de parar.

A rotina invade a casa, remete a cama para o canto e no centro instala-se um sofá e um televisor, um lugar de aconchego, com mantas e almofadas e é tempo de se segredarem coisas do coração ao ouvido, num conforto estagnado que é bom.

E a vida avança (não rodopia) até ao dia em que o passado bate à porta e somos confrontados com aquilo que largamos lá para trás, os estragos que fizemos, o que de bom que lá ficou.

É quando percebemos que a única solução é seguir em frente e que o carrossel somos nós que o giramos, somos nós que o procuramos, ele está lá, sempre à nossa espera, dentro de nós"

Leonor