quinta-feira, julho 10, 2014

Enfim, um homem sensível


Se eu pudesse escolher uma imagem para representar a Copa de 2014, seria a de David Luiz deixando o estádio do Mineirão com lágrimas nos olhos, pedindo desculpas à multidão nas arquibancadas.

Minha impressão é que esse rapaz veio a simbolizar, nos últimos dias, por seu comportamento e por suas atitudes, algumas novidades positivas a respeito dos homens brasileiros.

Nos momentos de alegria e de tristeza, ele fez com que a gente se orgulhasse dele – e, por extensão, de nós mesmos. Não se pode pedir mais que isso de um herói.

Ontem, ao final daquele jogo terrível com a Alemanha, que encheu de vergonha os que gostam de futebol, David Luiz não tentou inventar explicações que salvassem a sua pele ou a de seus colegas de time.

Ele simplesmente chorou diante das câmeras, depois de ter lutado em campo, reiterando, de uma forma que parecia muito sincera, o quanto era importante para ele “dar alegria ao povo sofrido do Brasil” e como lhe doía haver falhado de forma tão miserável nessa missão.

Numa profissão dominada por milionários consumistas, desconectados das pessoas que lhes garantem a fama e a fortuna, me comoveu ver um sujeito com os sentimentos tão próximos aos dos torcedores.

David Luiz, como nós, estava triste e envergonhado, e teve a grandeza de expor isso em público, sem subterfúgios...

...O jovem cabeludo de Diadema é um cara capaz de lutar como um leão, como fez em todas as partidas, mas doce o suficiente para abraçar o adversário e consolá-lo na derrota, como aconteceu ao final do jogo com a Colômbia.

É um sujeito capaz de se emocionar, de chorar, de pedir desculpas.

Ele assume responsabilidades difíceis, como bater o primeiro pênalti, mas brinca e ri com os colegas como um igual.

Tem liderança natural.

É um cara que exibe o raro sentimento de empatia, a qualidade de quem consegue se colocar no lugar do outro.

Num mundo agressivo e egoísta, em que as pessoas são ensinadas a impor os seus desejos e evadir-se dos erros e das responsabilidades, as atitudes públicas do David Luiz me parecem um exemplo sensacional.

Até a namorada dele, a modelo portuguesa Sara Madeira, não tem muito a ver com as loiras de corpo voluptuoso que os atletas vencedores exibem por aí.

A moça é linda, mas normal. Não parece outro item no catálogo de ostentação de um jovem milionário.

Seria uma injustiça se David Luiz entrasse para a história como representante de uma geração de perdedores estigmatizados, como aquela da Copa de 1950 no Maracanã.

Eu acredito sinceramente que ele não tem culpa.

Ninguém avança numa competição dessa sem bons líderes, sem uma sólida orientação. Acabou-se a época dos improvisos.

O caráter de David Luiz e de seus colegas de time não bastou para enfrentar o preparo superior dos alemães.

Por causa disso eles foram humilhados diante de centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro, e nós com eles. Foi um aprendizado terrível.

Tomara que ele traga algum fruto ao futebol e à consciência do país.

Quanto ao David Luiz, que ele possa andar por aí de cabeça erguida, cabelos crespos ao vento, rindo e chorando quando tiver vontade. A era dos gaúchos durões acabou.

Ivan Martins

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