Fomos ver a casa anunciada.
E nos demos conta de que as casas, como as pessoas, morrem.
Logo à entrada, a cerâmica, arcaica, mostrava como uns poucos anos podem acumular o pó dos séculos.
Dentro, tapetes bordados a mão, tipo casa-grande, talvez portugueses, bronzes antigos, faianças, vasos de plantas, peças avulsas de mobiliário nobre.
Tudo com a pátina, a ronha, a ferrugem, o fungo, o cuspo, o vômito do tempo.
E, contudo, podia-se sentir
—ainda! ainda!— o amor que presidira à feitura, à escolha, à disposição de tudo aquilo em composições plásticas de que emanava calor.
E no conjunto se multiplicava da soma das peças o valor, mercê da mais-valia da poesia e do amor.
Na parede da sala um retrato lindo de mulher, no escritório fotografias de juventude, contrastantes com o bafio e o bolor.
Na casa abandonada fizeram ninho vespas, aranhas, mofo, enfim a fauniflora do esquecimento, solfejando morte, inferno e dor.
Ah! melancolia de ver que nada somos, nada valemos, nada!
Mas a lição de que, de tudo, sobrevive, só, o que a alma tocou.
Anderson Braga Horta
maria tereza cichelli

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