domingo, abril 06, 2014

VELHA CASA


Fomos ver a casa anunciada.

E nos demos conta de que as casas, como as pessoas, morrem.

Logo à entrada, a cerâmica, arcaica, mostrava como uns poucos anos podem acumular o pó dos séculos.

Dentro, tapetes bordados a mão, tipo casa-grande, talvez portugueses, bronzes antigos, faianças, vasos de plantas, peças avulsas de mobiliário nobre.

Tudo com a pátina, a ronha, a ferrugem, o fungo, o cuspo, o vômito do tempo.

E, contudo, podia-se sentir

—ainda! ainda!— o amor que presidira à feitura, à escolha, à disposição de tudo aquilo em composições plásticas de que emanava calor.

E no conjunto se multiplicava da soma das peças o valor, mercê da mais-valia da poesia e do amor.

Na parede da sala um retrato lindo de mulher, no escritório fotografias de juventude, contrastantes com o bafio e o bolor.

Na casa abandonada fizeram ninho vespas, aranhas, mofo, enfim a fauniflora do esquecimento, solfejando morte, inferno e dor.

Ah! melancolia de ver que nada somos, nada valemos, nada!

Mas a lição de que, de tudo, sobrevive, só, o que a alma tocou.

Anderson Braga Horta

maria tereza cichelli

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