Meu namorado me liga.
- Oi, marquei para falarmos com a arquiteta na quarta, tudo bem?
- Ha-hãm. Tudo bem…
Desligo o telefone e anoto para não esquecer “Reunião com a arquiteta na quarta”.
Leio o que escrevi. Leio mais uma vez. Estranho.
Não parece um compromisso meu… é tão… sei lá…. adulto!
Às vezes tenho a impressão que os vinte e poucos anos são uma espécie de purgatório.
As crises da adolescência já não fazem mais parte do cotidiano, mas as responsabilidades da vida adulta ainda soam estranhas algumas vezes.
É mais ou menos como ter de comprar calça jeans aos 12 anos: as de criança já não servem mais, e as de adulto ficam largas.
As lembranças das tardes assistindo MTV, das festas de faculdade, e de andar em bandos ainda estão vivas, em um passado não muito distante.
E ao mesmo tempo, os planos de ter a própria casa, de se casar, e quem sabe até ter filhos, começam a não parecer mais tão absurdos assim.
Durante o dia você trabalha, leva esporro do chefe e é cobrado como gente grande.
À noite você só quer voltar para aquele grupo de amigos de sempre, que te acompanhou durante tantos anos, e falar as mesmas besteiras de quando tinha 17.
É uma contradição o tempo todo.
Há uns dois anos, em uma conversa com a minha ex-chefe, eu disse que poderia trocar qualquer refeição por um doce.
Ela, com seus 37 anos, me disse que meu paladar ainda era infantil, e que isso era um resquício da adolescência, que com o tempo passaria.
Até hoje não passou, assim como outros “resquícios” que insistem em permanecer.
Será que algum dia todos eles somem? Quem sabe aos 30…
Fonte: Natália Spinacé é repórter de ÉPOCA
maria tereza cichelli

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