segunda-feira, outubro 22, 2012

Noivei no Facebook – e meu marido não entendeu nada



Noivei! Isso mesmo. Resolvi noivar. À beira dos 17 anos de casamento. Joguei tudo para o alto. Mudei o status para noiva. Só no Facebook. Mas fez uma diferença danada.

Por quê? Porque deu vontade. Só isso. Vi várias pessoas noivando no Facebook. Mudando status. Uma onda de flashback me deu um caldo. Inveja? Talvez. Não vejo nada de mais nisso.

Existe realmente, uma inveja que visa a destruir. Olho grande, olho gordo, seca pimenteira. Sei lá. Pelo olhar, pela fala, a gente já sente que a notícia caiu mal no outro. Hum, você está noiva? Que bom… No dia seguinte, o noivo é chamado para servir no Iraque.

Tem gente que seca. Você conta e é batata, entra areia. Mela tudo. Dá zebra até no que já estava acertado e não tinha como errar. Existe isso? Não acredito, nem duvido. Em todo caso, tomo cuidado. Algumas pessoas não se veem com a capacidade de conquistar a própria vida. As conquistas alheias são difíceis para elas. Incomodam. Sentem como se tivessem recebido pouco da vida. A vitória de quem está ao lado cai mal. Estala como chicote no lombo. Se pelo menos servisse para fazer andar mais rápido, já seria alguma coisa. Mas, em geral, nem adianta.

Amargam ao ver o outro indo enquanto elas vão ficando para trás. O ganho alheio lhes fere, como caminhada em mato espinhoso. O que elas não percebem é que esse caminho de espinhos são elas mesmas que plantam. Ressentidas. Não conseguem desfrutar do que receberam. Vivem na falta azeda do que não têm.

Há um tipo de pessoas diferentes dessas. Não torcem para que o sucesso do outro se desfaça. Ao contrário. Não faz nenhum resultado para elas a infelicidade do outro. O que elas querem é ser felizes também. Apreciam o que o outro conseguiu. Não desejam o mal. Apenas querem também. E se alegram. Porque o fato de alguém ter chegado lá, quer dizer que é possível. Serve de incentivo. Um modelo para se espelhar. Inveja? Sim. Uma inveja ótima. Motor e desejo para o progresso. Um novo e possível caminho a ser traçado. É traçar a rota e trilhar.

Voltando ao Facebook: eu não queria passar para separada. Nem viúva. Não se tratava de raiva ou vingança. Nem era o caso de me livrar do marido. Era, no fundo, saudade de um cheiro de festa. Um ar de “o que seremos daqui em diante?”. Era isso que eu queria de volta. Sem o medo de como seria. Agora eu já sei! Então, invejosa de mim mesma, noivei!

Só que noivei primeiro – avisei depois. Mandei recado pelo celular. Marido ligou preocupado. Como assim? Expliquei que não estava mudando de pessoa. Só de status. Contava com ele para ser o noivo.

Ele não entendeu nada.

Homens são assim, às vezes. As mudanças que nos parecem essenciais para eles podem ser puro desperdício. De tempo, de falas, de letras, de dinheiro. Podiam passar sem. Tranquilamente.

Eu também podia. Mas fiquei olhando aquelas pessoas noivando. A cada semana noivava um. Relembrei meu pedido de noivado. A situação. As flores. O clima. Tão simples e tão bom.

A casa vazia, antes da reforma. Nossa e a construir. A esperança de dias futuros. Doces lembranças. O porvir reaqueceu a velha chama. Ainda há vida a construir. Todo dia. Quis noivar de novo. Por que não? Reviver. Repaginar. Reaquecer. Noivei! Agora, ele que se vire se quiser casar comigo de novo. Que corra atrás do prejuízo.

Nem se trata de um prejuízo grande. Quero cheiro de café fresco – não quero um casamento com sabor de garrafa térmica. Quero o sabor da fruta do pé – não aquele suco já ficando rançoso. Com a polpa meio passada boiando por cima. Claro que, se não tem outro, vai esse mesmo. Mas, é preciso poder oferecer mais. Estar pronto para ir além do razoável, nem que seja de vez em quando. Surpreender.

Estar junto vai além. É preciso sabor. Todo o sabor a que se tem direito. Faxina. Bater a poeira. Sacudir o tapete para ver a cor que estampa por debaixo.(...)

(...) O que, vamos combinar, já é um ótimo começo para qualquer relacionamento. Imprescindível, para virar desejo do outro. Ser boa companhia para si mesmo é o básico. Fundamental. Brincar é possuir a capacidade de flutuar meio metro acima da dura realidade. Você passa por tudo o que tem que passar. Não tem jeito. Mas, não se rala tanto. Esfola menos.

Descobri que posso brincar de Facebook. Trocar. Mudar. Experimentar e ficar vendo o que acontece. Com o sabor e a fluidez do faz-de-conta. Já recebi até parabéns! Estou adorando. Só me surpreendo com uma coisa: como não pensei nisso antes!

Mônica El Bayeh - ÉPOCA

maria tereza cichelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo comentário...