sábado, outubro 27, 2012

Em nome da liberdade, homens são proibidos em vilarejo do Quênia


Cansadas de serem violentadas, mulheres se fecham em uma comunidade exclusivamente feminina



Moradoras de Umoja entoando um canto. Dentro da comunidade, a harmonia é total

Em tempos de revoluções twittadas, o que acontece na vila de Umoja, no Quênia, é uma das manifestações mais subversivas do planeta. A ideia é abrigar mulheres que escaparam de estupros, agressões, casamentos forçados, mutilações genitais, e outras covardias. E para deixá-las totalmente à vontade e livre do trauma que inevitavelmente segue uma experiência dessas, nada de homens - a não ser os que lá nasceram.

Essa história de resistência e coragem começou há 22 anos como uma inofensiva cooperativa de artesanato, que produzia e vendia peças de miçanga. Apesar da evolução, o espírito cooperativo permanece intacto: as mulheres dividem a carga e trabalho igualmente e tudo funciona na base da conversa, sem hierarquia. A coisa mais próxima de uma chefe que o vilarejo possui é Rebecca Lolosoli, que está mais para líder espiritual dos 48 moradores. E essa mulher merece um parágrafo à parte.


As mulheres, as miçangas e o sorriso aliviado. Cena rara fora do vilarejo

O pai de Rebecca tinha 3 esposas. O marido de Rebecca a comprou por 17 vacas. Essas duas informações impressionam, mas isso não é exatamente absurdo no Quênia, milhares de outras mulheres de lá passam pela mesma situação. Acontece que Rebecca levantava sua voz sempre que achava que algo de errado estava acontecendo: algo inconcebível para uma mulher. Apesar do casamento forçado, Rebecca até que gostava de seu marido. Até o dia em que ela foi espancada por soldados ingleses por ter denunciado os estupros que eles vinham realizando sumariamente na região – e seu marido achou normal. Isso a deixou assustada e fez cair ficha: ela não tinha a proteção de ninguém, poderia morrer a qualquer momento que não faria a menor diferença pro seu marido. Afinal de contas, ela morrendo, ele compraria outra mulher e vida que segue. Antes que isso acontecesse, Rebecca, que também tinha sido estuprada, resolveu fugir.

Com a ajuda de 15 mulheres que tinham um passado mais ou menos parecido com o seu, ela fundou a Umoja. Só o fato delas serem as donas da terra é uma subversão, já que mulheres não podem ter uma propriedade. Além das oficinas de artesanato com miçanga – uma fonte de renda em potencial que pode torná-las independentes – elas são alertadas sobre o tratamento pré-natal e recebem assistência para que o parto em si também seja o mais seguro possível. Os casos de estupro também estão sendo levados à Justiça, graças à ajuda de um advogado britânico especializado em direitos humanos.


Fonte: Redação Galileu


maria tereza cichelli

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