terça-feira, setembro 25, 2012

Como as mães de antigamente


As mães de antigamente partilham uma característica: elas deixaram memórias sensoriais nos filhos. As mães do passado imprimiram lembranças ligadas a cheiros e gostos, porque, naquele tempo, mães usavam Leite de Colônia ou Leite de Rosas e cozinhavam mais, exalando temperos no ar.

Filhos das mães de antigamente dizem coisas como “mamãe cheirava a Alfazema”, talvez porque, naquele tempo passado e sem data, não houvesse tantas opções assim na perfumaria.

Nem tudo é cheiro agradável, no entanto. Mães de antigamente também tinham mania de botar naftalina nos armários. Não gostavam de traças. Penso na naftalina toda vez que vejo uma traça fugindo pelo banheiro. E acabo preferindo as traças. Mas tem hora que até o cheiro naftalina dos armários de antigamente me parece um tanto poético.

Mães que deixam cheiros bons são como o gosto final de um vinho repleto de notas sutis. Vão-se as broncas, ficam perfumes e temperos.

Quando eu percebi o quanto eu achava legal essa memória sensorial, decidi que precisava, urgente,fazer algo a respeito disso, porque cozinhar, não cozinho, nem alfazema passo em mim.

Não cozinho mas faço um mingau de chocolate sem igual (e sem leite também) e uns lanchinhos bem criativos. Meu macarrão com ovinho de domingo não exala temperos pelo ar, mas minhas filhas amam. De repente, no futuro, quando forem adultas, a memória sensorial delas terá algo do meu mingau ou do macarrão de domingo.

Eu não uso Alfazema, mas passo o mesmo perfume há uns 15 anos. Minha aposta é que, um dia, elas percebam isso e lembrem de mim ao sentir em alguém ou no freeshop “aquele perfume gostoso da mamãe”. Quando acordo antes da caçula (coisa rara, porque ela sempre chega antes no nosso quarto), escovo os dentes para abraçá-las e beijá-las pela manhã. Nesse caso, a ideia não é plantar a memória de algum hálito específico, porque pasta de dente a gente muda, mas me prevenir contra uma lembrança desagradável. Mãe com bafo não dá. Já pensou ela lembrando “mamãe tinha mania de vir beijar a gente com bafo”?

Não dá. Não dá.

Pelo visto, minha preocupação procede.

A caçula de 3 anos recém-completos, que detesta tudo que seja “vedi” na comida e é implicante e moleca que só, não pode me ver comendo salada que reclama lá do outro lado da mesa.

“Eca! Que chelo di ispinafi”.

Pensando em regar a salada com alfazema…

Fonte:Isabel Clemente é editora de ÉPOCA

maria tereza cichelli

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