Ter um amor atravessado é viver pelo avesso, ansiando pelo reverso das emoções.
É passeio de barco em águas proibidas, com um forte desejo de perder o rumo e não mais voltar.
É necessitar do sol, banhando-se de penumbra entre raios imantadores do luar.
Ter um amor atravessado é ser o secundário, e nunca o mais importante.
É ser amanhã, talvez, todavia, curtindo apenas o hoje. É Ter, sempre, gesto e gosto adiados.
Ter um amor atravessado é nunca ser a outra metade; é ser gomo, não laranja.
É ser, ainda, "amostra grátis", andando em pasta de representante de laboratório, jamais em farmácia "dia e noite".
Ter um amor atravessado é viver como figurante, sem qualquer esperança de chegar a protagonista. É ser bastidor, nunca ribalta.
Ensaio, jamais espetáculo.
Ter um amor atravessado é Ter, agora, cinco minutos, com a certeza de que, se quiser mais, é esperar cinquenta anos.
É ter sextas e sábados, às vezes plenos, e eternos domingos de solidão.
É fabricar o momento de estar, porque estar é sempre impossível. É se poder ficar porque depois é ficar sem poder.
É viver de mentirinha. É brincar de casinha, usar aliança, fazer comidinha, tomar chá, ouvir chuva no telhado, sentir a suavidade da brisa e a calidez da noite.
Ter um amor atravessado é somar angústia, choro, poesia e música. É falar em "finais", porque a eternidade é inalcançável.
É poder permanecer e não saber como partir.
Ter um amor atravessado é não Ter natal, aniversário, feriadão. É ficar só num sábado de sol ou num Domingo enfarruscado.
É ter dor de estômago,tomar remédio para dormir, suor nas mãos, rinite alérgica, manchas arroxeadas na pele.
Ter um amor atravessado é vivenciar canções a dois, lugares marcados, datas, perfumes, frases, cores e horóscopos.
É sempre ceder, dar um jeitinho, perder o sono à noite, aguardar telefonema, esperar notícias.
Ter um amor atravessado é mais do que amor - é paixão, é gostar sem retorno, é ser amigo-companheiro-amante-cúmplice (tudo interpenetrado e sem separação).
É gesto ilícito, proibido, oculto, simulado, errado. É hora de voltar para, nunca dormir junto e tomar café da manhã a dois.
Ter um amor atravessado é muita gente saber, dar força, aprovar, achar que não deve ser assim, pensar que vai mudar, é todo mundo perceber tudo isso, menos quem pode tomar as decisões.
Ter um amor atravessado é abraçar forte com medo de não abraçar mais. É na hora da alegria
não ser totalmente feliz, porque o fantasma da perda é real. É morrer de saudade sem esperança de viver.
É Ter lágrimas nos olhos, voz engasgada, peito oprimido e tonteira. É enlaçar de mãos
dadas temendo o desenlace existencial. É juntar corpos desejando-os inseparáveis para sempre.
Ter um amor atravessado é todo dia dizer adeus, com um beijo de boa noite sem coragem de dizer o eterno ADEUS.
(Desc.Autor)
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