A cultura contemporânea
"Menti, menti aos quatro ventos.
Algum saldo sempre ficará."
Algum saldo sempre ficará."
1 - Estamos inseridos numa cultura que se transformou em aprendizagem fácil de máscaras. Máscaras que se incrustam, imperceptivelmente, em nosso rosto, em nosso comportamento, em nossa vida.
E a gente termina contagiado, envolvido, com uma nostalgia enorme, quase desesperada, da pureza de outrora.
Desquitada, vazia internamente, rodopiando num torvelinho esmagador de problemas, aquela senhora falou, com amargura:
- Meu Deus, tenho saudade de mim mesma. Dos tempos,em que me conhecia. Dos tempos em que eu era EU!
2 - Uma civilização que ensina o uso de máscaras é uma civilização carcomida, decrépita, sem nobreza.
Um ser humano que se joga estrada em fora, procurando seu verdadeiro rosto, merece pena e compaixão.
Com a máscara incrustada, o indivíduo pratica um jogo duplo:
- passa a enganar a si mesmo
- e tenta enganar os outros.
É a zona perigosa da impostura. A fuga da verdade.
A verdade sempre foi o encontro de dois olhares. O olhar do outro descendo sobre mim. E eu fixando a mim mesmo.
3 - Nosso instinto de autodefesa aconselha o uso de máscaras. Vivemos. num século que nos agride e assalta de múltiplas formas, por todos os lados.
Inseguros, ameaçados, olhamos para os outros com desconfiança. Tememos armadilhas, golpes, cheques em branco.
Buscando enriquecer rapidamente, a honestidade termina asfixiada por nossos sonhos e projetos de fortuna.
Na obsessão de altos postos ou cargos, viramos calculistas, exploradores de oportunidades que nos beneficiem e promovam.
Milhares de instituições modernas incentivam a instalação de todos os nossos egoísmos. A publicidade comercial esmera-se em badalar a grande trindade vitoriosa: lucro, posição social, rendimento.
Consumir, comprar, adquirir, faz parte da nossa vida. É requisito de sobrevivência.
Envereda, porém, em caminhos falsos e distorcidos, toda a sociedade que se torna hipócrita, exploradora, mercantilizada, que aberta ou subliminarmente propala aos quatro ventos:
- Consumi ao máximo, súditos do meu reino.
Comprai acima das vossas posses. A felicidade está em adquirir. A realização nasce da possessão. Entulha. vossas casas de bugigangas. Forrai geladeiras com todo o gênero de comestíveis.
Abarrotai sótão e porão de quinquilharias e brinquedos para as crianças. Adquiri livros em quantidade, para esnobar cultura e arrotar superioridade intelectual.
Até quando teremos estômago para digerir tanta mentira?
Até quando aguentaremos a marcha desvairada de uma civilização que corre vertiginosamente sobre este tipo de trilhos falsos?
Em que amanhecer despertaremos do sono forçado, no qual nos jogaram os comprimidos venenosos do embuste?
Qual a mão benfeitora que nos apontará o caminho da verdade e os horizontes da retidão perdida?
E dos longes da Palestina, sobrepairando os slogans aliciantes da sociedade de consumo, um timbre muito claro e amigo nos chega:
- Cuidado com os falsos profetas.
Eles são lobos mascarados em cordeiros:
Cautela, meus filhos!
É preferível despedir-se da vida, pobre em bens materiais do que aportar na eternidade carregado com bugigangas inúteis, por mais brilhantes que elas sejam aos olhos do mundo!
Pe. Roque Schneider In Pausa para meditação
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FOLHA.COM
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maria tereza cicheli
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