sexta-feira, novembro 28, 2014

Estou amputado. Não tenha pena de mim, nunca se deixa um amor sem se machucar.


Ninguém enxerga. Mas estou amputado.

O que é invisível sangra mais.

Sofro por algo que não falarei.

Não me pergunte.

Posso estar rindo, posso estar trabalhando com vontade, posso demonstrar confiança, posso ser amoroso, posso ser simpático.

Mas estou amputado.

O braço levanta, mas não abraça quem quer.

A perna caminha, mas não vai onde deseja.

Parte de mim não existe mais.

Você não vê diferença, é que disfarço a dor com elegância.

Manco só em casa. Tropeço só em casa.

Na rua, eu me equilibro na raiva e na injustiça.

Tenho minhas bengalas provisórias.

Às vezes eu me escoro nas paredes dos amigos.

Às vezes escorro o rosto de noite lamentando que não serei mais completo.

Estou amputado.

Vou me adaptar, vou seguir adiante, vou sobreviver.

Não terei a mesma facilidade de antes, não acreditarei mais que posso ter tudo o que preciso, mas acharei um jeito de voltar a correr.

Um dia - espero que seja breve - ponho uma prótese, esqueço o tombo, a cicatriz se junta à pele, a dor será apenas uma fisgada no temporal.

Estou amputado.

Não tenha pena de mim, nunca se deixa um amor sem se machucar.

Fabrício Carpinejar

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